Elisângela
Oliveira Lopes
Orientadora:
Profª. Me. Maria das Graças Teixeira de Araújo Góes
Universidade
Estadual de Santa Cruz
Resumo: Este
trabalho desenvolve uma analisa sobre a conscientização das problemáticas
sociais, por meio da parceria estabelecida entre a linguagem verbal e a
linguagem visual. Para tal, procuraremos demonstrar que a construção de
sentido poderá ser constituída através de fotografias, as quais serão
comparadas com o romance Vidas Secas de Graciliano Ramos. A
metodologia deverá seguir os seguintes procedimentos: 1.pesquisas
bibliográficas, em que teóricos fundamentarão a proposta de estabelecer uma conexão que envolva
duas linguagens diferenciadas a
verbal e a não verbal 2. Leitura do romance Vidas Secas, buscando
refletir sobre o problema da seca que se descamba para o social 3.Pesquisa de
imagens fotográficas. 4. Organização seqüencial das fotografias, obedecendo à
mesma ordem dos capítulos do livro. O artigo é uma proposta de ensino que
contribuirá para a formação de leitores, despertando a sensibilidade e
compreensão para outra forma de linguagem, que assim como a verbal, também
possui elementos carregados de significados.
Palavras chaves; ensino; leitura;
fotografias.
INTRODUÇÃO
A imagem ocupa seu
espaço como linguagem, estando presente em todos os campos comunicativos, ou
seja, Nos outdoors, televisão, vitrines, etc., o que comprova a visualidade da
sociedade moderna, conforme afirma Tânia Pellegrini: “O que se capta, em
primeiro lugar, é um contexto demonstrativo em vez de um contexto verbal” (PELLEGRINI,
2003, p. 16).
No romance Vidas
Secas, a imagem e a palavra estão intimamente ligados. As linhas que
compõem a narrativa da obra despertam, no leitor, a visualização de todo o
cenário, por meio do mecanismo da imaginação. Portanto, ao procurar traduzir a
obra através de imagens fotográficas, ele terá recursos para compor o enredo. Dessa forma, se torna possível o vínculo natural entre a fotografia e o
romance, conforme demonstraremos no nosso estudo.
A ordem seqüencial, na qual as fotografias
estão expostas, sintetiza os capítulos da obra, sugerindo significados,
permitindo uma visão linear e construindo uma intertextualidade com o livro.
Nesse sentido, as fotografias permitem uma leitura crítica do principal
problema social abordado no romance, a miséria causada pela seca.
A arte da
fotografia, por conseguir fazer um recorte de um momento, alcançou o efeito da
tentativa de representar a realidade de forma quase fiel, chegando a uma verossimilhança.
Vale considerar que cada arte possui suas características próprias, no entanto
estão constantemente se relacionando, ao passo que não se pode valorizar uma em
detrimento da outra. Tratando-se da arte
fotográfica, ela pode permitir ao leitor um contato visual com seu objeto de
estudo. Os elementos presentes nestas imagens, como as cores, o cenário, os
objetos e as pessoas, contribuem despertar na mente do receptor uma percepção
mais holística de um determinado contexto.
Assim
como o romance Vidas Secas, as fotografias, também, apresentam ao leitor
as angústias do homem nordestino e as marcas da dor causada pelo descaso
social. Sendo assim, a comparação proposta entre a obra de Graciliano Ramos e a
imagem fotográfica, mostra outra possibilidade de leitura.
AS VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS
Graciliano
Ramos nasceu em Alagoas no ano de 1892 e morreu no Rio de Janeiro em 1953. Filho
mais velho de um casal de sertanejos e teve quinze irmãos. Passou parte de sua
infância entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Trabalhou como revisor do jornal
Correio da Manhã (1910) e do A Tarde ( 1914
). Logo após a morte de três de seus irmãos, que foram vítimas da peste
bubônica, volta a Palmeira dos Índios (AL), onde se torna prefeito da cidade.
Cresceu
presenciando o cenário seco que contribuía para as dificuldades sociais e
econômicas dos moradores de sua região. Tais circunstâncias o fizeram acreditar
que a vida do ser humano só poderia ser conduzida pela violência.
Indiferente a certos hábitos sociais, não
gostava de ouvir rádio, atender a telefonemas e ouvir músicas; quanto a sua
religiosidade nomeava-se ateu. Sertanejo, gostava de fumar e vestir roupas simples;
Um homem que tinha várias alcunhas como: Velho Graça, Major Graça, Mestre Graça
entre outros. Passava a imagem de uma pessoa rústica e grosseira.
Era
crítico a respeito do que escrevia. Sobre o romance Vidas Secas dizia
ele: “ (...) história
mesquinha, um casal vagabundo, uma cachorra e dois meninos.” ( RAMOS, 1938
apud, PÓLVORA, 2009, p. 3 ) Em outros momentos tecia elogios à sua obra ( sobre
o romance São Bernardo ) “Vai sair uma obra prima, em língua de sertanejo,
cheia de termos descabelados.” ( RAMOS,
1935 apud PÓLVORA, 2009, p.3 ). Também criticava a literatura brasileira “Literatura
brasileira uma ova, que o Brasil nunca teve literatura. Vai ter de hoje em
diante.” ( ibidem ) .
Acusado
de ser comunista, foi preso no ano de 1936 e, ainda em cativeiro, escreveu Memórias
do Cárcere, que trata de um depoimento sobre a realidade do Brasil. Ao sair
da prisão em 1937, movido pelas necessidades financeiras, escreve um conto
sobre a morte de uma cachorra:
Escrevi um conto sobre a morte duma cachorra, um troço difícil
como você vê: procuro adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que
há alma mesmo em cachorra? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar
num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejaríamos. A diferença
é que eu quero que apareçam antes do sono...( RAMOS, 1937
apud PÓLVORA, 2009)
Em
1938 publica a primeira edição do romance Vidas Secas, que é uma obra
composta por um conjunto de contos, inclusive o da cachorrinha Baleia. O
romance conta a história de uma família de retirantes que caminha pela caatinga
em busca de um canto para viver. Essa família é composta pela cachorra Baleia,
que além de ser tratada como gente por todos, é muito amada pelas crianças.
Sinha Vitória, mulher de Fabiano, mas que não se conforma com tamanho
sofrimento. Fabiano, homem grosso e rústico, vaqueiro que busca um trabalho. Os
dois meninos, que são crianças sem carinho e atenção, que vivem em um mundo
miserável, sem compreender a realidade que os circundam.
A
narrativa é na terceira pessoa. Sua
linguagem é rica em metáforas, seus personagens são comparados a animais e a
cachorra Baleia é comparada a gente. A
obra retrata a realidade do sertão brasileiro, não apenas daquela época, mas
também dos nossos dias. Em suas páginas está evidente a injustiça social, a
pobreza e o descaso com o ser humano, Levando-o a condição desumana de quase
animal.
O
autor de Vidas Secas deixa transparecer em seu romance, linhas marcadas
pelos conflitos vivenciados pelo homem. Através de um pensamento crítico,
suscita as crises sociais de forma realista, já que todo o enredo gira em
volta de um problema, a miséria causada pela seca, que se constitui como
protagonista principal.
Alguns pontos estão evidentes no romance Vidas Secas: o
monólogo dos personagens demonstra que eles vivem em conflito diante das circunstâncias
causadas pela seca, gerando dor e sofrimento.
A marca de submissão está evidente em suas páginas, evidenciando-se na
relação patrão e empregado, isto se comprova quando Fabiano, orientado por sua
esposa, sobre o pagamento injusto que tinha recebido, deixou-se enganar sem
nenhum questionamento. E também no momento em que o vaqueiro, depois de ser
preso e tomar uma surra mandada pelo soldado amarelo, tem a oportunidade de
reagir, contudo, ao se encontrar com este soldado, próximo a sua casa, fica sem
reação e deixa o homem ir embora, alegando que “Governo é governo” ( RAMOS,
2008, p. 107 ).
É possível perceber a miséria, tanto econômica quanto social no
romance, pela rica descrição do seu cenário e personagens. A natureza seca está
detalhadamente apresentada; as linhas que falam sobre o clima ensolarado são
tão magníficas que torna possível aguçar a percepção do leitor em que diz
respeito à sensação da temperatura dos raios solares, que racham a terra e com
a mesma intensidade a pele das criaturas humanas. Por outro lado, a
desvaloração ao ser humano, também se faz presente em vidas secas, onde é narrada a história de uma
família de pobres, sem casa para morar, caminhando sob o sol insuportável do
sertão pernambucano e se materializa em situação animalesca.
O romance não
trata apenas de um enredo fictício, mas sim da amostragem de um cenário hostil
que atinge a alma do ser humano, o elevando a uma condição de desgraça e
desespero, fazendo despertar nos personagens um sentimento de exclusão social.
Graciliano Ramos consegue mostrar um retrato do sertão nordestino brasileiro,
através da linguagem verbal, descrevendo cenários e personagens, possibilita ao
leitor visualizar um ambiente com poucas vidas e quase nenhuma expectativa,
diante do sol causticante que assola rouba a esperança de seus moradores.
O LEITOR E A LINGUAGEM DAS FOTOGRAFIAS
O ato da leitura
O ato de ler
envolve uma multiplicidade de elementos no campo dos aspectos críticos e
interpretativos. Partindo desse pressuposto, é possível concluir que a leitura
não deve acontecer de forma sistemática e mecânica, mas por meios de ações que
levam o sujeito a compreender o mundo que a antecede.
Esta habilidade requer esforços que trazem à tona um
conjunto de saberes, ou seja, não será possível encontrar o verdadeiro sentido
de um texto em um primeiro olhar, pois a significação se dá mediante uma
relação construída entre o leitor e o texto. Sendo assim, surge a importância
de outros elementos que fazem parte do contexto de produção da mensagem.
Entre
esses elementos pode-se considerar (KOCH, 2007 ):
1. O tipo de mensagem, pois ela pode ser
verbal ou não verbal.
2. O tema tratado, podendo ser ele político,
histórico, social entre outros.
3. O momento de produção, pois a vida possui um
movimento dinâmico e contínuo As pessoas mudam juntamente com seus hábitos e
pensamentos, e a natureza se transforma a cada momento, pois o ciclo natural da
vida é instável, ou seja, o que poderá sugerir um determinado conceito em certo
momento histórico-social, em outro momento poderá sugerir outras reflexões.
4. O meio que a
mensagem foi vinculada, podendo ser um jornal, um romance, um cartaz, um livro
didático etc.
Nesse processo dinâmico, o leitor
possui um papel relevante para a construção de sentido, uma vez que a sua
recepção não surge de forma automática, pois inúmeros processos cognitivos são
aflorados para este fim, como as hipóteses sobre a mensagem lida, a interação
que se desenvolve com ela e o conhecimento de mundo que cada sujeito carrega
consigo.
A leitura possibilita ao leitor o
acesso a várias informações, como também a um conhecimento mais amplo da
dimensão cultural que existe a sua volta, para assim poder transformar a
realidade posta. Neste sentido, a escola poderá reforçar o seu trabalho com a
leitura, acrescentando às suas práticas pedagógicas propostas ricas e inovadoras.
A propósito da escassez de informação, e pensando
na atuação das pessoas em setores da vida social e política, poderíamos lembrar
– com pesar a condição indefesa de quem não sabe ler, conseqüentemente, de quem
apenas dispõe de um corpo de informações restritas à transmissão da oralidade.
Por isso a leitura acaba promovendo a inclusão social, acaba sendo uma condição
do exercício pleno da cidadania. ( ANTUNES, 2009, p. 194 )
Ler é uma forma de conhecer o mundo,
de refletir sobre os sistemas políticos, históricos e sociais. É um meio de entender as questões que
dinamiza a vida das pessoas e além de tudo, proporcionar ao leitor a
compreensão de que ele faz parte de toda ação que move a humanidade.
Para
uma leitura eficiente, a escola deverá criar condições, que propicie a seus
alunos habilidades diante das diferentes mensagens que os cercam, e os capacitem
a interagirem em seu meio social de forma a questionar e refletir sobre a
realidade posta. Diante desta proposta, se torna indispensável que os
professores estejam despertos para o universo lingüístico que circunda o aluno
e, vale lembrar, que este cenário não é composto apenas por textos verbais, mas
também de imagens carregadas de significações e conceitos interpretativos, que
não devem ficar fora do ambiente de leitura da sala de aula.
Na
escola, a leitura da imagem deverá ocupar o seu lugar no currículo, pois ela
compõe um universo de linguagem e possui a sua natureza comunicativa que,
muitas vezes, confirmam ou condenam os discursos elaborados através dos textos
verbais.
Existem
muitas maneiras de se trabalhar com a imagem em sala de aula. Em relação à
leitura da fotografia, será importante que o professor desenvolva estratégias
interessantes, permitindo que o aluno
ative seus conhecimentos prévios
e comente sobre a imagem, fazendo inferências e levantando suposições. A leitura poderá ser feita com a colaboração
do professor, de forma paulatina, analisando cada detalhe em que muitas vezes
passa despercebido e, também, poderá ser
pessoal, quando o leitor escolherá uma fotografia, e procurará realizar
sua leitura individual e depois, comentada suas conclusões para a classe. Ao
que se refere ao trabalho comparativo de um romance com algumas imagens fotográficas,
o aluno poderá criar sua própria história, mediante a sua visão interpretativa.
Outras propostas de trabalhar a fotografia em sala de aula poderão ser criadas
e pesquisadas pelo professor.
A
linguagem fotográfica
A linguagem imagética possui o
seu espaço demarcado na cultura contemporânea, pois a captação da primeira
impressão se refere ao visual, nesta sociedade onde as mudanças se dão cada vez
mais rápido. Nesse contexto, “a imagem tem, portanto, seus próprios códigos de
interação com o espectador, diversos daqueles que a palavra escrita estabelece
com o seu leitor.” (Pelegrini, 2003 p. 16).
Para se compreender uma mensagem contida em uma fotografia, é
preciso que o receptor conheça o contexto cultural na qual foi criada, ou seja,
ela não tem o mesmo sentido para qualquer pessoa em qualquer lugar. Sendo assim, a fotografia deixa de ser vista
como verdade absoluta, e interpretável em si mesma, pois é o receptor que
determinará o grau de sensibilidade que marcará a sua interpretabilidade.
A interpretação superficial e assistemática de uma fotografia não
dá conta de todo o seu objeto. Não podemos encontrar o sentido da fotografia
nela mesma, pois é necessário considerarmos a existência de outros elementos
que fazem parte do cenário e que escapam do registro fotográfico. Esses elementos são, por exemplo: os reflexos
das luzes que surgem nos elementos concretos, o contexto de produção da imagem,
e a intencionalidade do fotógrafo. “As fotografias propriamente ditas quase não têm significação nelas mesmas:
seu sentido lhes é exterior, é essencialmente determinado por sua relação
efetiva com o seu objeto e com sua situação de enunciação” ( DUBOIS, 1993, p.
52 ).
A fotografia é um signo do campo das
linguagens, sendo assim não deixa de ser um instrumento ideológico, estando
sujeito a várias formas de avaliação. Como signo, ela remete a algo ou a alguma
idéia que está externa a ele. Desse modo, não se pode aceitar uma foto como
representante fiel da realidade, atribuindo-lhe uma única verdade absoluta,
conforme já mencionamos anteriormente, muito embora, em alguns contextos, ela
pode ser vista como analogia do real, o que possibilitará que sirva como um
importante recurso de leitura em sala de aula. segundo Santaella (1997 apud Santaella, 1985, p.
163)
Como qualquer outro tipo de imagem, a
fotografia é um signo, sendo, portanto, a sua referência àquilo que está fora
dela e que ela registra, um duplo. Qualquer signo, por sua própria natureza, na
sua relação com aquilo que é por ele indicado ou que está nele representado, é
um duplo. Só pode funcionar como signo porque representa, substitui, registra,
está no lugar de alguma outra coisa que não é ele próprio, daí ser
necessariamente um duplo.
Na escola, o aluno poderá abstrair sua mensagem e compreender
que a fotografia, assim como o texto verbal, também poderá ser lida. Cabe ao interlocutor,
desenvolver um olhar crítico frente à mensagem fotográfica, analisar com
cautela o seu referente e está atento para o seu contexto social, histórico,
cultural e político.
À medida que as sociedades mudam de forma dinâmica e inesperada,
confirma-se a importância do registro fotográfico. Este objeto se torna uma
relevante fonte de leitura, por fazer um recorte de um tempo, em um determinado
espaço, e registrar fatos, cenários e personagens reais. Nas aulas de leitura
um novo olhar poderá ser aguçado para os problemas sociais através das imagens.
Assim como o texto escrito está à disposição para ser analisado e interpretado
e o sujeito tem a liberdade de concordar ou não com o que está posto, fazendo
inferência e levantando questionamento, desvendando as suas ideologias
subjacentes, a fotografia também poderá participar deste campo de estudos, para
o desenvolvimento da percepção do leitor.
LEITURA
IMAGÉTICA EM VIDAS SECAS
Capítulo 1
Mudança
Capítulo 2
Fabiano
Capítulo 3
Cadeia
Capítulo 4
Sinha Vitória
Capítulo 5
O menino mais novo
Capitulo 6
O menino mais velho
Capítulo 7
Inverno
Capitulo 8
Festa
Capítulo 9
Baleia
Capítulo 10
Contas
Capitulo 11
O Soldado amarelo
Capítulo 12
O mundo cobertos de penas
Capitulo 13
Fuga
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O romance Vidas Secas possui uma magnífica descrição
visual de seus personagens, cenários, e da miséria vivenciada pela família de
Fabiano. Embora sendo uma história de ficção, podemos perceber que ela se
repete em muitas regiões nordestinas, desta vez com personagens reais. Na obra,
Graciliano Ramos faz uma denúncia social, apresentando o descaso e a
indiferença ao ser humano, através da família do vaqueiro e do cenário inabitável
do sertão.
Hoje, com a realidade da seca, da
fome e da pobreza, surgem muitos Fabianos, muitos meninos sem expectativas de
futuro, muitas Sinhás Vitória com seus sonhos despedaçados. Na maioria das
vezes as pessoas fecham seus olhos para não enxergar este cenário verdadeiro,
que está do lado avesso do consumo e do progresso, vivenciado por uma parcela
indiferente da sociedade.
A narrativa do
romance, elaborado por uma ação lingüística que segue uma seqüência lógica e
coerente em um determinado tempo e espaço, está organizada sob um enredo
composto por fatos, que apesar de serem fictícios, apresentam uma
verossimilhança com o real. Esta narrativa poderá ser transposta para a imagem
fotográfica, que por sua vez auxiliará para dar vida ao espaço, capturando a
realidade visual. A imagem fotográfica se aproxima da linguagem verbal com uma
nova proposta de organizar a história narrada, proporcionando um intercâmbio
entre o que se vê e aquilo que se escreve.
O leitor precisa compreender que
existem várias possibilidades de leitura e a escola deve despertar em seus
alunos, um olhar crítico frente a estas
questões. A fotografia é uma riquíssima fonte interpretativa que deveria
ser mais trabalhada em sala de aula como recurso pedagógico. Ela leva a vida
real até a sala de aula. Sendo assim, tendo contato com a imagem, o aluno
visualizará o cenário verdadeiro das relações sociais. Em se tratando da problemática
social, retratada em Vidas Secas, se torna um casamento perfeito o
encontro da linguagem verbal e da linguagem não verbal.
Após este estudo comparativo
entre a linguagem do texto verbal, presente nas páginas do romance Vidas
Secas, e as fotografias previamente selecionadas, conclui-se que se torna
possível uma aproximação entre estas duas linguagens e que há a possibilidade
de leitura do texto imagético.
Diante de fotografias
significativas, como as apresentadas neste artigo, é possível uma reflexão sobre
a problemática do cenário nordestino. Conclui-se, também que este objeto em
sala de aula poderá servir como instrumento de denúncia social, e representará
a fala de muitas pessoas que vivem tal qual a família do vaqueiro Fabiano.
Assim, o leitor terá a sensação de ouvir o grito de socorro de homens, mulheres
e crianças, que gostariam de sair do anonimato e ser tratados como gente.
Ao contemplar as fotos analisadas,
o leitor poderá ver em cada olhar a falta de sonhos, em cada face a temperatura do sol causticante que
racha a pele, nos pés sujos e descalços o cansaço de caminhar pelas estradas secas
do sertão. Assim, quando o leitor se depara com uma fotografia significativa,
para se obter uma leitura mais profunda, é necessário observar os detalhes e
deixar aflorar seu conhecimento de mundo e seus sentimentos.
Foi possível
estabelecer uma relação entre o texto verbal e o não verbal por meio da
fotografia. Como resultado deste trabalho, onde duas linguagens foram analisadas,
verifica-se que ambas denunciam a problemática social da miséria proposta por
Graciliano Ramos. As fotografias selecionadas neste presente trabalho foram
organizadas na mesma seqüência do romance, a fim de apresentar uma narrativa
significativa, representando o tema de cada capítulo, culminando com a denúncia
social causada pela seca.
Diante desta proposta, o professor em sala de
aula poderá levantar com seus alunos alguns questionamentos sobre a situação de
pobreza e miséria vivida pela grande maioria das pessoas que habitam o sertão.
Finalmente, o que importa nesta reflexão, que
busca aproximar as duas linguagens, não é valorizar a imagem fotográfica mais
do que o texto verbal, não é propor uma substituição, nas escolas do texto
escrito para o texto visual. Mas sim, sugerir aos educadores que proporcionem
aos seus alunos outra maneira de ver o mundo e refletir sobre o mesmo. Nas aulas de leitura, o professor, juntamente com seus
alunos, poderá desvendar os discursos subjacentes na fotografia, realizando
diferentes leituras interpretativas e estabelecendo relações de comunicação com
a imagem.
REFERÊNCIAS
Bosi,
Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 37ª Ed. São Paulo:
Cultrix. 1994.
DANTAS,
Sergio. Retratos do Sertão. Disponível em:
DUBOIS,
Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Tradução: Marina
Appenzeller. Campinas: Papirus 1993.
KOCK,
Ingedore Villaça & ELLAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do
texto. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2007.
LUCIMARA,
Tavares. Língua Portuguesa. Disponível em:
MASCARENHAS,
Diego. Baleia. Disponível em:
PELLEGRINI, Tânia. et al. Literatura, cinema e televisão.
São Paulo: Senac 2003.
PÓLVORA,
Hélio. Graciliano Ramos. Disponível em: <www.vidaslusofonas.pt/graciliano_ramos.htm>. Acesso em: 29
de set. de 2010.
RAMOS,
Graciliano. Vidas Secas; 106ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.
SANTAELLA, Lucia e NÖTH, Winfried. Imagem, Cognição semiótica mídia. 4ª
Ed. São Paulo: Iluminares 1997.
TEIXEIRA, Evandro. Ruínas
da Igreja Velha de Canudos, açude Corobobo <http://www.evandroteixeira.net > Acessado em: 08 out. 2010
TEIXEIRA, Evandro. Canudos. Disponível
em: < http://www.fflch.usp.br> Acessado
em: 30 set. 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário